Artistas de festival punk do Pará são investigados por suposta apologia à violência contra Bolsonaro
Os principais alvos da investigação são os cartazes de divulgação utilizados pelo festival, em que o presidente é comparado ao palhaço Bozo e ao ditador Adolf Hitler. Quatro organizadores do coletivo punk Facada Fest, do Pará, foram intimados e prestaram depoimento na quinta-feira (27), após o ministro da Justiça, Sérgio Moro, autorizar a abertura de um inquérito contra os artistas. A investigação apura a suposta prática de crimes contra a honra do presidente Jair Bolsonaro, além de apologia à violência. No inquérito, assinado por Moro, que solicita a abertura de investigação sobre o caso, os cartazes são os principais objetos de análise, por possuírem supostas referências de teor violento. Foram intimados para interrogatório membros das bandas THC, Delinquentes, Filhux Ezkrotuz e produtores do evento. O pedido de investigação foi solicitado pelo Instituto Conservador de São Paulo e autorizado pelo ministro Sérgio Moro. Cartaz do Facada Fest, em Belém, virou caso de Justiça Divulgação Em um dos cartazes utilizados para a divulgação de 2019 do Facada Fest em Belém, há um personagem representado pelo palhaço Bozo, que aparece empalado por um lápis, e vestindo a faixa presidencial com o número "171". Em outro cartaz para divulgar o festival em Marabá, sudeste do Pará, o personagem central da peça aparece vomitando fezes sobre uma floresta, com bigode semelhante ao do ditador Adolf Hitler, usando uma cueca com a bandeira americana e de arma na mão. Os dois cartazes foram feitos pelo artista Paulo Victor Magno. No cartaz do festival em Marabá, o personagem central aparece vomitando fezes sobre uma floresta, com bigode semelhante ao do ditador Hitler Divulgação Em depoimento prestado para a Polícia Federal na quinta-feira (27), os artistas alegaram que o lápis empalhando o palhaço Bozo não tem relação com a facada que atingiu Bolsonaro em 2018. Segundo o grupo, o cartaz representa o momento pelo qual o Brasil estava passando na época, criticando os cortes de gastos na educação e protestando contra a violência. Durante a campanha eleitoral de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro foi vítima de uma facada em Minas Gerais. O coletivo Facada Fest utiliza o nome desde 2017, quando foi criado. Em sua conta no Twitter, o ministro Sérgio Moro negou que a iniciativa do inquérito tivesse partido dele, mas admitiu que concorda com a investigação. O ministro disse ainda na rede social que o conteúdo dos cartazes não é uma simples crítica. Ministro da Justiça nega que a iniciativa do inquérito contra o festival FacadaFest tenha partido dele. Reprodução Ministro da Justiça critica uso de imagem em cartaz do festival Facada Fest. Reprodução Evento chegou a ser cancelado A edição do festival em questão estava prevista para acontecer em julho de 2019, em frente do Mercado de São Brás, em Belém, mas foi cancelado pelos organizadores que temeram que o encontro pudesse gerar confusão com apoiadores do presidente. O Facada Fest foi remarcado para um bar fechado, mas foi novamente cancelado porque, de acordo com os organizadores, meia hora antes do evento começar, a polícia foi até o local e constatou que um dos alvarás do estabelecimento estava vencido. O festival Facada Fest 3.2 foi enfim realizado em agosto de 2019, com sucesso de público e sem nenhuma ocorrência policial. No evento foram arrecadados presentes para doar à crianças carentes. De acordo com a organização do festival, o evento aconteceu com o apoio da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) e Secretaria de Estado de Cultura (Secult). Posteriormente, os organizadores do evento foram premiados na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) pela Difusão de Cultura. A organização do Facada Fest se pronunciou sobre o caso em uma conta no Instagram. Na legenda da postagem, o festival se posicionou e disse que respeita a Constituição e defende o direito à atividade artística e à liberdade de expressão. Ainda, a organização criticou a repressão a um festival de música enquanto o país passa por diversos outros problemas, como degradação ambiental da Amazônia e relação entre políticos e milicianos.
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